segunda-feira, 16 de agosto de 2010

PRIORIDADE

A jornada de trabalho, durante a Revolução Industrial no século XVIII, era extensa e variava entre 14 e 16 horas por dia. Após esse período, graças às históricas lutas pelos direitos trabalhistas que defendiam, entre outros, tempo para os feriados e para os cuidados à saúde, a carga horária passou a ser menor. Porém, paradoxalmente ao pensamento das pessoas antigamente, a atual maior preocupação do trabalhador está em se dedicar o maior tempo possível à realização do trabalho, sejam as “horas extras” ou a ansiedade de resultados rápidos, e que consequência disso é a invasão do tempo fora do escritório ou da empresa, sobrepondo o que seria para outras atividades.

Uma possível explicação para esse fato ter se transformado é a mudança de pensamento: a valorização de algumas temas sobre os outros define o que é prioritário ou não. Como a sociedade contemporânea vive uma fase de contínuas e constantes mudanças, para queas pessoas não sejam despedidas de um dia para o outro, essas buscam continuar estáveis em seus empregos obedecendo às regras do mercado, mesmo que para isso sacrifiquem o tempo em relação com os outros. Esse tipo de comportamento gera um reflexo muito maior que o pessoal, pois por mais que uma pessoa seja individualista, necessita-se de um balanceamento em todos os setores da vida.

Existe uma dissociação do lado pessoal e do profissional, porém o desiquilíbrio leva a consequência para um dos lados. Se os valores familiares são colocados em um plano inferior e fazer refeições com a família completa se tornou um fato raro, os parentes sentirão os reflexos disso. Não havendo as reuniões em família, nem um acompanhemento educacional dos filhos, a ausência dos responsáveis por estes formam cidadãos que podem ter como base os próprios conceitos de respeito e atitudes desaprovadoras, como alguns exemplos: agressivas e desonestas. Serão os adultos de amanhã sem limites. De acordo com uma pesquisa feita pelo PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento -, no estado de São Paulo, as pessoas colocam a falta de valores morais para que possam melhorar verdadeiramente suas vidas. É preciso, desde cedo, desenvolvolvê-los e não criar uma indiferença em relação à esses.

Além de que, sem com quem passar o tempo, às crianças e adolescentes o passam com maior frequência em frente ao computador, jogando jogos no video game ou assistindo programas na televisão, sendo alvo frequente de anúncios publicitários e de um pensamento acrítico - tendo informações interpretadas da própria forma - sem nenhuma orientação sobre.

As pessoas andam muito ocupadas e sacrificam também o tempo que deveria ter para com a religiosidade, à saúde e às questões políticas e econômicas do país, tornando o cidadão brasileiro com tudo ao seu redor, estagnado. Sem perspectivas de mudanças, não há pensamento crítico e o conformismo passa à dominar as pessoas, surgindo o medo da transformação. Assim, o esquema é competitivo, que ganha quem tiver o melhor currículo ou “deu um jeitinho” de enganar o outro e funciona com a “lei” de “Seja o que eu quero que você seja”, desde que o trabalhador ganhe o salário.

O trabalho deveria ser, além do meio de sobrevivência do homem no capitalismo, uma forma de identificação pessoal. Nem todos tem a oportunidade de seguirem a carreira pela qual seja sua vocação; às vezes, nem pensam em vocações. As pessoas estão sendo atraídas para obter um poder aquisitivo e logo, preencher suas vontades - talvez compulsivas - de consumo. O mercado é recheado de valores numéricos, porém não tem nenhum verdadeiro valor sentimental. É preciso definir o que realmente tem valor entre as pessoas e para si própria para não ter do que se arrepender depois.